Embarque numa viagem pela história da “Estrela do Interior” e faça uma visita ao Museu Histórico Militar de Almeida, localizado nas antigas casamatas. Um dos espaços mais emblemáticos da Fortaleza de Almeida. Aceite o nosso desafio e parta à descoberta!
Almeida - da Guerra a Estrela da Paz
1 - A Fortaleza de Almeida, uma estrela na fronteira
Após a Restauração, e dentro de um novo ciclo de conformação de identidade nacional, a decisão de fortificar a Raia “à maneira Moderna” veio clamar, de forma mais profunda e radical, novas funções e reconversões para os velhos castelos raianos.
Urgia de novo garantir a integridade do território. À data de 1640, no panorama militar internacional, a arte da guerra e todo o conceito defensivo tinha-se modificado, tendo as fortificações abaluartadas ultrapassado há muito o período de experimentação. Porém, ao longo de toda a linha da Raia Portuguesa, não existia ainda uma única estrutura desse tipo. A unificação dos reinos peninsulares sob uma mesma coroa tinha postergado a necessidade e o interesse na proteção da fronteira terrestre. Já no que se refere à fronteira marítima, desde cedo, sob Filipe II (e mesmo anteriormente ao período da “Monarquia Dual”) houve um forte incremento na modernização das estruturas defensivas do litoral (primeiro em resposta à atividade do corso e, depois, em virtude da rivalidade e das ameaças inglesas sobre o poder dos Habsburgos).
Perante a pressão e precipitação dos acontecimentos da Restauração, e face a uma faixa territorial demasiado extensa, verificou-se a impossibilidade de se fazerem adaptações modernas em todas as estruturas medievais existentes
A Raia era constituída por áreas em mosaico, com linhas avançadas e recuadas, herdadas do processo sequenciado da formação da nacionalidade, o que levou a uma seleção criteriosa de pontos centrais e estratégicos, estabelecidos nas principais vias de penetração do território português.
Desde cedo Almeida, beneficiando de uma centralidade geoestratégica preponderante, foi-se transformando numa das principais portas do reino, onerando por isso múltiplas responsabilidades desde D. Dinis, D. Manuel até D. João IV, data do início da construção da sua cintura abaluartada. Por isso, podemos mesmo afirmar que é com a Restauração que Almeida adquire o seu incontroverso valor estratégico na Raia Central, enquanto porta de acesso ao coração do reino, primus inter pares numa malha de fortificações com comunicação constante entre novas praças de vanguarda e uma retaguarda de matriz medieval.
Além de trabalhos de proteção da Vila com o seu castelo manuelino (levados a cabo pelo Arquiteto David Álvares), a construção da Fortaleza de Almeida não se terá iniciado antes de 1644, ordenada por Charles Lassart na sequência D. João IV o ter nomeado para “desenhar e reconhecer as fortificações de Entre e Minho e Beira”. Posteriormente foi encarregado Pierre Gilles de Saint-Paul, oficial de engenharia, para orientar as obras, coadjuvado por Pierre Garsin.
Sabe-se ainda que Saint-Paul trabalharia nas obras da fortificação até 1646, sendo depois substituído por Rodrigo Soares de Pantoja e, em 1657, por Rodrigo de Castro, o qual deu grande incremento à fortificação com profundas alterações no seu traçado e perfil, e talvez seja aqui balizada a alteração do seu traçado, de sete para os seis baluartes que depois se vieram a efetivar.
A Praça-forte, dada a importância da sua função defensiva, foi merecedora de um leque de especialistas de charneira na prática e tratadística militar pese embora o seu traçado resulte de influências várias, fruto da meia centena de engenheiros que contabilizamos terem trabalhado na Praça (Foto1)
Embora não se conheça o projeto inicial da fortificação (embora atribuível ao francês Charles Lassart, nomeado Engenheiro-mor do reino) podemos dizer que ela foi beneficiada, nos finais do século XVII e no século XVIII, de vários contributos e influências de Sebastien le Preste, Marquês de Vauban, não se podendo no entanto olvidar os ensaios havidos nos Países Baixos Espanhóis com a construção de Damme, ou Grolle, ambas traçadas por Guillaume Flamen, equiparadas à solução concretizada em Almeida, com a estabilizada forma hexagonal.
Por outro lado, falar na influência de Vauban na própria Praça-forte de Almeida tem a sua razão de ser, dada a familiaridade de técnicos engenheiros que nela trabalharam com algumas fortalezas construídas pelo Mestre, pela sua regularidade, pela forma estrelada aliada à ideia de cidade ideal, aspetos que antecipam, de certa forma, as propostas de Vauban para Longwy e a obra prima de Neuf-Brisach.
Em 1735, surge um novo alento na reorganização e modernização dos trabalhos da praça, estimulado pela presença do Engenheiro-mor, Manuel de Azevedo Fortes, autor da primeira planta que se conhece da Praça forte, e o qual viria a dirigir pessoalmente as obras da Praça durante alguns meses, propondo um conjunto de alterações no sentido de aumentar a sua eficácia. Obra de sua chancela parece ter sido o quartel de Infantaria do Terreiro do Poço do Rancho, embora em local diferente do inicialmente previsto em planta. (Foto 2)
Antes ainda da Guerra Fantástica (1762-1763), há a registar na vila um surto considerável de construções ou adaptações dos vários edifícios às diferentes necessidades militares, mas apesar da aceleração de construções e da afluência de um número cada vez maior de engenheiros, o cerco de 1762 saldou-se pela capitulação de Almeida e pelas numerosas destruições provocadas pelos ataques.
Após o desaire, MacLean, o então governador no comando, mandou que se procedesse a um levantamento exaustivo dos prejuízos e das reparações que era necessário efetuar, registando-se, até ao ano de 1810, um grande número de iconografia e relatórios com elevado grau de minúcia, que nos vão dando conta dos andamentos e abrandamentos a que a praça vai sendo sujeita.
Ainda do século XVIII, mas de diferente autoria, data a construção do edifício com melhor recorte estilístico da Praça de Guerra: o Corpo da Guarda Principal, atribuído a Anastácio de Sousa e Miranda, que se implantou na antiga Praça do Pelourinho.
Apesar do volumoso número de obras executadas, os relatórios de dificuldades sucessivas na execução e de debilidade financeira repetiam-se, mas nada faria prever o que veio a suceder em 1810. Cercada pelos Franceses e depois de lançadas as primeiras bombas do exército inimigo, Almeida explodia. Erro humano ou não, uma bomba certeira no paiol do castelo fazia com que grande parte da fortaleza se transformasse em ruínas. Muitas estruturas ficaram irremediavelmente perdidas (o castelo, a igreja matriz…) e outras, apesar de parcialmente destruídas, só mais tarde viriam a ser consertadas, mas já nunca com o fôlego construtivo que pairou na praça de 1764 até ao cerco de 1810 (Foto3).
Este foi o início da morte da fortaleza que, ao fim de poucas horas de bombardeamentos se revelou ineficaz e, por isso, uma Comissão de 1824, apontando-lhe numerosos defeitos, alvitrou a sua desclassificação.
Em virtude das convulsões internas que marcariam o advento da Monarquia Constitucional, no ano de 1853 a atenção das chefias ainda se voltava de novo para Almeida e, desta vez, o veredicto da Comissão acerca da sua viabilidade resultaria na apreciação de ser esta “Praça uma das mais fortes do Reino, e talvez a mais forte dellas”, mas que, apesar disso, não foi o bastante para a sua continuidade, consumando-se a sua desclassificação no virar do século.
Depois de termos atravessado a história do sítio, lembramos que hoje ela percorre novos caminhos, fazendo recair um novo olhar e uma nova missão: a de Monumento.
Todo o ponto de chegada é, naturalmente, novo ponto de partida e o nosso voto é de que lhe possamos, pois, trazer dia-a-dia novo fôlego, novos motivos de atração – para bem-estar dos almeidenses e do seu património multissecular... ingredientes estes, quiçá os bastantes para que venha a efetivar-se enquanto «Património da Humanidade». Aliás, o dossiê já está pronto e aí se apontam as inúmeras virtualidades que Almeida tem para a sua candidatura ser formalmente considerada viável e efetiva.
2 - Breve descrição da Estrela de Almeida
A configuração que nos apresenta a Praça-Forte de Almeida, é a de um traçado quase regular, hexagonal, materializado em 6 baluartes e 6 meias luas que se desenvolvem rodeadas por uma cintura de fossos com caminho coberto, impressionante na sua grande dimensão aferida pelos seus 64ha de superfície global, incluindo os glacis (Foto 4).
Derivado da sua geometria é o resultado do mais elevado esforço construtivo de uma praça-forte, cifrando-se que por cada metro quadrado de área urbana, tivesse que se construir um metro quadrado e meio de excecionais muralhas de pedra (Campos: 2009, 181).
A disposição dos seus pentágonos seria regulada pelo alcance de um tiro de mosquete, o que representaria em meados do seculo XVII 750 pés, ou seja, mais ou menos 200 metros. Enuncia-se já no tratado de De Ville que a razão de ser da forma da fortificação resulta de uma exigência teórica basilar: todas as partes deviam “ser flanqueadas, quer dizer que não haja lugar algum na praça que não seja vista pelos lados”.
Parece certo que os primeiros redutos a ser edificados foram os Baluartes da Cruz, e de S. João de Deus e depois o de Santa Bárbara, defendendo o lado mais descoberto do sítio, já fora da proteção do Castelo dito medieval.
Com excepção dos Baluartes de S. Francisco (ou da Cruz) e de S. João de Deus, os restantes quatro têm, total ou parcialmente, os paramentos das escarpas em terra, motivados pelas destruições ocorridas durantes os assédios de 1762 e de 1810. A solução decorreu da decisão de se consolidarem os taludes, diminuindo o perímetro da linha de fogo e estabilizando o conjunto sem paramentos de pedra, tal como chegou aos nossos dias. Do conjunto dos 6 revelins, destaque para o Doble, exemplar único na Península Ibérica, devido à sua geometria rigorosa e volumetria composta para funcionar com contraguarda de grandes dimensões e um reduto pentagonal, interligado por ponte levadiça com ligação à poterna encurvada. É a obra mais consistente do tipo Vauban.
3 - O Museu Histórico Militar de Almeida no Baluarte de S. João de Deus:
3.1 - O Baluarte de S. João de Deus, é o maior da praça com 28 canhoeiras. Ao nível da corda conserva ainda o seu caminho de ronda (pese embora esta solução seja pouco habitual na fortificação abaluartada), tem plataforma no ângulo e cavaleiro lajeado para morteiros e guaritas a pontuar os ângulos. No total, a Praça-forte de Almeida somava mais de uma centena de canhões, estando os restantes distribuídos pelos baluartes de Santa Bárbara (23), São Francisco (18), Nossa Senhora das Brotas e Santo António (13 cada) e São Pedro (10). A artilharia somava também as posições para morteiros, dispondo a generalidade dos baluartes de Cavaleiros lajeados, com relevo para a Praça Alta e a Praça Baixa do baluarte de Santa Bárbara. (Foto 5)
3.2 - Breve caracterização da edificação
O baluarte de S. João de Deus apresenta um dos edifícios mais emblemáticos da Praça-forte, de elevado valor projetual, com um vasto programa construtivo de cerca de 2 500 m2. No seu interior, tem 20 compartimentos abobadados ladeando um corredor de acesso e um pátio central.
Esta configuração corresponde (no essencial) ao piso térreo do projeto de Manuel de Azevedo Fortes (1736). O projeto, a ser completado na sua totalidade segundo traçado que se conserva (Engenheiros A. Anastácio de Sousa Miranda e Maximiniano José da Serra, 1801) seria na verdade mais ousado, nomeadamente na construção de um grande Cavaleiro com três níveis e terraço para artilharia (Foto6).O programa nunca chegou a ser concluído, fosse pela urgência de outras obras mais prementes, fosse pelo declinar da velha arte de fazer a guerra, transmutando do assédio às fortalezas urbanas para a guerra de movimento, quando a importância do domínio do terreno e seus pontos estratégicos deixou de ser vital e, com isso, declinava também a importância dos velhos baluartes de Almeida.
Em lugar do edifício em altura podemos ver a originalidade de um sistema de cobertura constituído por megálitos de granito imbrincados (à semelhança de telhados dos templos e das stoas do período grego clássico), com caleiras redondas no mesmo material. (Campos:2006) (foto 7).
3.3 - Usos e Histórias dos Subterrâneos
Multifuncional desde a sua construção, dada a extensa área coberta e a sua boa construção, este complexo construído favoreceu no passado vários usos, consoante as mais variadas necessidades da praça de guerra: foi aquartelamento de soldados, hospital, sítio de refúgio, prisões, conforme escritos nos relatórios dos sucessivos governadores ou engenheiros entre 1762 e 1833.
Sabemos por exemplo que durante o cerco de 1762, e citando relatório de MacLean no Le jornal d´Almeida, “as casamatas foram durante os meses de Junho e Julho refugio de mulheres, crianças, freiras e de homens doentes e extremamente feridos”, ao mesmo tempo em 1766 o coronel Funck determinava que os subterrâneos eram de grande utilidade durante um cerco, para o acondicionamento de doentes, feridos, servindo também para armazéns de toda a espécie, dada a escassez presente dos mesmos na cidade. Em 1790 o Conde de Oeyhausen previa a necessidade de se fazer “hum cavaleiro pela Construção de Vauban (…), nos subterrâneos de S. João de Deus dada a necessidade de oficinas, ou alojar livres de perigo a tropa em descanso.
Sabemos pelos Livros de Assentos das prisões militares do Governo de Almeida (AHM; cit. Carvalho: 1973) que entre 27 de Agosto de 1828 e 31 de Outubro de 1833, se registam-se nas prisões da vila mais de um milhar de presos; mais de duas centenas estiveram nas casamatas, 49 evadiram-se escalando os seus muros e 29 por arrombamento dos canos das latrinas. Durante o mesmo período registam-se nos subterrâneos de S. João de Deus 41 mortos.
4 - O MHMA, programa e projecto, condicionante e vicissitudes
4.1 - O Museu Histórico-Militar está aberto ao público desde 30 de agosto de 2009 e é tutelado pelo Município, resultando de um trabalho conjunto entre a Câmara Municipal e a Divisão da História e Cultura Militar, e o Museu Militar de Lisboa, ficando a dever-se a este último a elaboração do programa e percursos museológicos; preparação e selecção dos conteúdos e peças; execução e locução dos filmes e pontos interactivos; e elaboração de réplicas e miniaturas. Coube ao Município a recuperação física do ‘contentor’ e a selecção dos equipamentos e suportes. A equipa multidisciplinar que teve a seu cargo a concretização do programa museológico contou com a presença de técnicos quer do Museu Militar de Lisboa quer do Município.
O Museu Histórico-Militar de Almeida insere-se na tipologia de “Museus Históricos” : é um museu monográfico de temática militar, dividido por núcleos de índole cronológica, abarcando desde as “Origens” até à “I Guerra Mundial”, debruçando-se, depois, sobre o caso específico de Almeida.
A sua missão prende-se, no essencial, com a salvaguarda do património histórico e militar da Praça de Almeida, promovendo simultaneamente novas abordagens de natureza cultural, fomentando o interesse e a curiosidade sobre as antigas tácticas de guerra, e apelando à compreensão do significado da história militar relacionada com as diferentes arquitecturas militares e a armaria. É sua incumbência a concretização de uma missão social interventiva, a fim de melhor contribuir para o desenvolvimento da comunidade onde se insere. Neste âmbito deve tem tentado ter bem presente entre os seus objectivos: o estudo, a preservação e a divulgação dos “bens representativos da natureza e do homem”, ampliando desta forma a essência do (seu) objecto museológico extravasando-o para manifestações imateriais, mas igualmente expressivas, da cultura deste povo, profundamente arreigada à temática militar .
Pese embora a rigidez física que vinca o complexo arquitetónico, podendo dificultar a flexibilidade dos espaços, a marcante compartimentação existente não é uma condicionante, mas uma mais-valia, ao facilitar a visualização clara de cronologias complexas, que são representadas em cada sala e correspondem a uma determinada época da História Militar. (Foto8)
Flanqueada a porta, inicia-se o percurso de visita nas várias salas que, à entrada, dispõem de sinalética prévia, através de um manequim, em fibra de vidro, que determina simultaneamente a sala e o período histórico que se vai visitar. Os guerreiros/militares estão logicamente recriados, de acordo com a época “onde se vai entrar”, funcionando como elementos apelativos que, de imediato, encaminham o visitante para o ponto desejável.
Relativamente aos conteúdos das várias salas: na das “Origens” (Foto. 9), o filme constituiu-se no fio condutor do percurso expositivo, incidindo especialmente no aparecimento do povoado, enquanto que o ponto interactivo mostra curiosidades de táctica de guerra; as vitrinas apresentam objectos bélicos de uso individual (romanos e lusitanos), uma vez que são destes povos as marcas mais antigas e conhecidas no território.
A sala da Idade Média (Foto10), identificada à entrada pelo arqueiro, pretende contextualizar a disputa de Almeida por leoneses, mouros e portugueses até ao Tratado de Alcanizes e consequente definição de fronteira. O ponto interactivo, pela sequência e montagem das imagens, é dos mais interessantes, exemplificando muito claramente as tácticas de assédio às fortificações e os tipos de combate.
O arcabuzeiro conduz-nos à sala seguinte, ao período do Portugal Restaurado (Foto11) onde o conjunto de objectos e multimédia nos referenciam a conjuntura nacional de então, enquanto momento propulsor que levou à construção da nova fortificação abaluartada de Almeida. O episódio histórico destacado é o do ataque acometido à Praça pelo Duque de Osuna, no ano de 1663, do qual saíram vencedores os Almeidenses, data que ainda hoje se assinalada no Feriado do Município.
Continuando o percurso dos espaços musealizados, segue-se o do “O cerco de Almeida e a Guerra dos Sete Anos”, (Foto12) onde a principal temática apresentada no pequeno filme se desenvolve em torno do cerco feito à praça no ano de 1762 até ao dia 25 de Agosto, data da sua rendição. O ponto interativo dá-nos informações muito interessantes sobre os diferentes tipos de combate. O morteiro e a boca-de-fogo constituem-se os elementos concretos em destaque ( Foto13).
Sucede-se a sala das Guerras Peninsulares (Foto14), o espaço com que os Almeidenses mais se identificam, ou não fosse a atrás referida Recriação Histórica do Cerco de Almeida a festa mais participada e vivida por toda a população (Foto15), aspecto muito explorado no pequeno filme, que se socorre de imagens dos próprios recriadores de Almeida pertencentes aos Regimentos de Infantaria 23 e de Artilharia 4. Outro aspecto de grande interesse é o diaporama de uma formação em linha, formando guarnição a uma peça de artilharia: um sargento em posição de ordenar fogo e um soldado bota fogo, ambos junto a uma peça de artilharia de campanha e respectivo reparo. (Foto16).
Seguindo a mesma linha conceptual, a penúltima sala, marcada por um soldado de Cavalaria, rememorando todos os objectos o conturbado período Liberal que em Almeida se viveu de forma particularmente intensa, ao constituir-se num sítio fortificado e de abrigo dos revoltosos contra os Absolutistas. Em destaque aparecem duas peças de artilharia: “obus de campanha com reparo” e “boca de fogo”(Foto 17).
O conteúdo expositivo termina na sala da “Grande Guerra”, onde a morfologia da exposição ultrapassa o carácter informativo, aproximando-se do carácter evocativo e teatral, sendo recriadas trincheiras e enquadrados os respectivos objectos (Foto18).
O espaço das “exposições temporárias” e dos serviços educativos é constituído por três salas, duas internas, mantendo praticamente a sua ambiência primitiva.
Atente-se agora nas seguintes designações adoptadas para a definição dos espaços e respectivo esquema de visita:
Espaços públicos de acesso condicionado a pagamento de Bilhete
• Sala 2 “Recepção e Loja”
• Sala 3 “As origens”
• Sala 5 “Idade Média”
• Sala 8 “Guerra da Restauração”
• Sala 12 “O cerco de Almeida e a Guerra dos Sete Anos”
• Sala 13 “Guerra Peninsular”
• Sala 14 “Lutas Liberais”
• Sala 17 “ Grande Guerra”
• Salas 9, 10 e 11: espaço polivalente
- salas de exposição temporária
- Serviços Educativos
• Bar (7)
b) Espaços altamente reservados
• salas 18 e 19: área técnica, reservas e atelier
• Sala 1: área administrativa:
- gabinetes técnicos
- sistema de CCTV e intrusão
d) Áreas a musealizar:
• Salas (em número de 4)
O MHMA apresenta actualmente um alinhamento do programa que procurou conectar o caso especifico de Almeida à História Nacional, contextualizando primeiro para particularizar depois, aspecto esse que está subjacente a toda a dinâmica organizacional, podendo mesmo afirmar-se que o percurso expositivo de “longa duração” articula quatro aspectos fundamentais: o tema, a estrutura, o aspecto visual e a cronologia, procurando, na colecção que exibe, na delimitação cronológica escolhida e no formato (misto) de comunicação que desenvolve.
Deste modo, os objectos (desde os manequins à armaria e acessórios individuais ou colectivos) funcionam enquanto objectos-signos e os meios audiovisuais operam enquanto contextualizadores.
Os materiais bélicos de uso individual agrupam-se em vitrinas e os de uso colectivo aparecem normalmente destacados nas vitrinas ou ocupando espaços centrais contextualizados em dioramas ou pequenos cenários (Foto19).
Todas as salas apresentam uma uniformidade e coerência visual clara, procurando uma adequação entre a instalação, a montagem da exposição e elementos de suporte e indicativos, de forma a produzir uma performance concreta de comunicação, determinando o perfil e a mensagem que o objecto pretende transmitir).
Todas as salas apresentam a mesma linguagem, que basicamente se concretiza no soldado/guerreiro à entrada, nos letterings curtos e concisos sobre a História de Almeida nos lintéis das portas e, num primeiro plano, a reprodução de imagens ou fotografias que se adequem ao conteúdo temático. A própria figura de fundo de todos os audiovisuais se concretiza no mesmo elemento iconográfico: a planta da autoria do Coronel Jackes Funck, na maioria dos casos.
Considerando que os visitantes necessitam de se sentir “em casa” competindo aos museus, a partir dos temas e dos conteúdos desenvolvidos, assegurar serviços que apoiem os públicos no processo de informação, de interpretação e de descoberta, estamos a preparar novas possibilidades de visita ao MHMA, embora mantendo a coleção, proporcionando uma abordagem diferente daquela que hoje existe!
(por opção do autor, este texto não foi escrito ao abrigo do Acordo Ortográfico)
Bibliografia:
BONDIN, Ray, Walled Cities – Problems of Management, in, CAMPOS, João, coord. Revista CEAMA nº.1, Almeida, Câmara Municipal, 2008.
CAMPOS, João, Caracterização Histórica e Arquitectónica da Obra Abaluartada de Almeida, in CAMPOS,
João, coord., Candidatura das Fortificações Abaluartadas da Raia Luso-Espanhola a Património Mundial – UNESCO, Almeida, Câmara Municipal, 2009.
CARITA, Rui, Paisagem Histórica de Almeida, in CAMPOS, João, coord., Candidatura das Fortificações Abaluartadas da Raia Luso-Espanhola a Património Mundial – UNESCO, Almeida, Câmara Municipal, 2009.
CARVALHO, José Vilhena de, Almeida, Subsídios para a sua História, Viseu, Ed. do A., 1988, 2 vols.
MENDES, Amado, Património(s): Memória, Identidade e Desenvolvimento, in ENCARNAÇÃO, José d’, coord., A História tal qual se faz, Coimbra: Edições Colibri, 2000
QUINTA, Ana Luísa, A Fortaleza de Almeida – Uma Perspectiva Arquitectónica, Almeida, Câmara Municipal, 2007.
Imagens:
1 – Vista aérea de Almeida
2 - “Planta // da // Praça de Almeida, // Com obras interiores e exteriores addicionadas e de/terminadas pelo Engenheiro-mor do Reino Manuel de // Azevedo Fortes // Riscada pelo Cappitam Jozé Fernandes Pinto Alpoym // Anno de 1736” GEAEM/DIE, 543- 1-2-2
3 - Plano de Profiz da Praça de Almeida, 1811, T.Cor.Major Neves da Costa. AHM/FE/3/47/18370
4 - Porta de S. Francisco, desde o Revelim
5 - Baluarte de São João de Deus , cobertura megalíticas, vista para o centro Histórico
6 AB” / “PERFIL CORTADO PELA LINHA CD” / “PERFIL CORTADO PELA LINHA EF”, referentes ao projecto do Cavaleiro do baluarte de São João de Deus, realizado por Anastácio Miranda e Maximiano Serra em 1801, do qual apenas foi concretizado o piso inferior. AHM –Div 3–47–AH 3.7–18367.2, Arquivo Histórico Militar, Lisboa.
7 – MHMA, corredor de acesso ao pátio, Sala das Origens e Idade Media
8 - MHMA Pátio Vista da sala da Guerra dos 7 anos e Lutas Liberais
9 – Sala das Origens
10 – Sala da idade Média
11 – Sala da Restauração
12 – Sala da Guerra dos 7 anos
13 – Sala da Guerra dos 7 anos, Colubrina 18 libras
14 – Sala das Guerras Peninsulares
15 – Recriação Histórica do Cerco de Almeida, 2019
16 – Espingarda de Infantaria, sec. XIX, sala das Guerras Peninsulares
17 – Sala das Lutas Liberais
18 – Sala da Grande Guerra
19 – Entrada do MHMA
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