"Almeida - da Guerra a Estrela da Paz". Um local imperdível e cheio de histórias para contar. Vai ficar surpreendido!
Almeida - da Guerra a Estrela da Paz
Fortaleza de Almeida, uma estrela na fronteira
Após a Restauração, e dentro de um novo ciclo de conformação de identidade nacional, a decisão de fortificar a Raia “à maneira Moderna” veio clamar, de forma mais profunda e radical, novas funções e reconversões para os velhos castelos raianos.
Urgia de novo garantir a integridade do território. À data de 1640, no panorama militar internacional, a arte da guerra e todo o conceito defensivo tinha-se modificado, tendo as fortificações abaluartadas ultrapassado há muito o período de experimentação. Porém, ao longo de toda a linha da Raia Portuguesa, não existia ainda uma única estrutura desse tipo. A unificação dos reinos peninsulares sob uma mesma coroa tinha postergado a necessidade e o interesse na proteção da fronteira terrestre. Já no que se refere à fronteira marítima, desde cedo, sob Filipe II (e mesmo anteriormente ao período da “Monarquia Dual”) houve um forte incremento na modernização das estruturas defensivas do litoral (primeiro em resposta à atividade do corso e, depois, em virtude da rivalidade e das ameaças inglesas sobre o poder dos Habsburgos).
Perante a pressão e precipitação dos acontecimentos da Restauração, e face a uma faixa territorial demasiado extensa, verificou-se a impossibilidade de se fazerem adaptações modernas em todas as estruturas medievais existentes
A Raia era constituída por áreas em mosaico, com linhas avançadas e recuadas, herdadas do processo sequenciado da formação da nacionalidade, o que levou a uma seleção criteriosa de pontos centrais e estratégicos, estabelecidos nas principais vias de penetração do território português.
Desde cedo Almeida, beneficiando de uma centralidade geoestratégica preponderante, foi-se transformando numa das principais portas do reino, onerando por isso múltiplas responsabilidades desde D. Dinis, D. Manuel até D. João IV, data do início da construção da sua cintura abaluartada. Por isso, podemos mesmo afirmar que é com a Restauração que Almeida adquire o seu incontroverso valor estratégico na Raia Central, enquanto porta de acesso ao coração do reino, primus inter pares numa malha de fortificações com comunicação constante entre novas praças de vanguarda e uma retaguarda de matriz medieval.
Além de trabalhos de proteção da Vila com o seu castelo manuelino (levados a cabo pelo Arquiteto David Álvares), a construção da Fortaleza de Almeida não se terá iniciado antes de 1644, ordenada por Charles Lassart na sequência D. João IV o ter nomeado para “desenhar e reconhecer as fortificações de Entre e Minho e Beira”. Posteriormente foi encarregado Pierre Gilles de Saint-Paul, oficial de engenharia, para orientar as obras, coadjuvado por Pierre Garsin.
Sabe-se ainda que Saint-Paul trabalharia nas obras da fortificação até 1646, sendo depois substituído por Rodrigo Soares de Pantoja e, em 1657, por Rodrigo de Castro, o qual deu grande incremento à fortificação com profundas alterações no seu traçado e perfil, e talvez seja aqui balizada a alteração do seu traçado, de sete para os seis baluartes que depois se vieram a efetivar.
A Praça-forte, dada a importância da sua função defensiva, foi merecedora de um leque de especialistas de charneira na prática e tratadística militar pese embora o seu traçado resulte de influências várias, fruto da meia centena de engenheiros que contabilizamos terem trabalhado na Praça (Foto1)
Embora não se conheça o projeto inicial da fortificação (embora atribuível ao francês Charles Lassart, nomeado Engenheiro-mor do reino) podemos dizer que ela foi beneficiada, nos finais do século XVII e no século XVIII, de vários contributos e influências de Sebastien le Preste, Marquês de Vauban, não se podendo no entanto olvidar os ensaios havidos nos Países Baixos Espanhóis com a construção de Damme, ou Grolle, ambas traçadas por Guillaume Flamen, equiparadas à solução concretizada em Almeida, com a estabilizada forma hexagonal.
Por outro lado, falar na influência de Vauban na própria Praça-forte de Almeida tem a sua razão de ser, dada a familiaridade de técnicos engenheiros que nela trabalharam com algumas fortalezas construídas pelo Mestre, pela sua regularidade, pela forma estrelada aliada à ideia de cidade ideal, aspetos que antecipam, de certa forma, as propostas de Vauban para Longwy e a obra prima de Neuf-Brisach.
Em 1735, surge um novo alento na reorganização e modernização dos trabalhos da praça, estimulado pela presença do Engenheiro-mor, Manuel de Azevedo Fortes, autor da primeira planta que se conhece da Praça forte, e o qual viria a dirigir pessoalmente as obras da Praça durante alguns meses, propondo um conjunto de alterações no sentido de aumentar a sua eficácia. Obra de sua chancela parece ter sido o quartel de Infantaria do Terreiro do Poço do Rancho, embora em local diferente do inicialmente previsto em planta. (Foto 2)
Antes ainda da Guerra Fantástica (1762-1763), há a registar na vila um surto considerável de construções ou adaptações dos vários edifícios às diferentes necessidades militares, mas apesar da aceleração de construções e da afluência de um número cada vez maior de engenheiros, o cerco de 1762 saldou-se pela capitulação de Almeida e pelas numerosas destruições provocadas pelos ataques.
Após o desaire, MacLean, o então governador no comando, mandou que se procedesse a um levantamento exaustivo dos prejuízos e das reparações que era necessário efetuar, registando-se, até ao ano de 1810, um grande número de iconografia e relatórios com elevado grau de minúcia, que nos vão dando conta dos andamentos e abrandamentos a que a praça vai sendo sujeita.
Ainda do século XVIII, mas de diferente autoria, data a construção do edifício com melhor recorte estilístico da Praça de Guerra: o Corpo da Guarda Principal, atribuído a Anastácio de Sousa e Miranda, que se implantou na antiga Praça do Pelourinho.
Apesar do volumoso número de obras executadas, os relatórios de dificuldades sucessivas na execução e de debilidade financeira repetiam-se, mas nada faria prever o que veio a suceder em 1810. Cercada pelos Franceses e depois de lançadas as primeiras bombas do exército inimigo, Almeida explodia. Erro humano ou não, uma bomba certeira no paiol do castelo fazia com que grande parte da fortaleza se transformasse em ruínas. Muitas estruturas ficaram irremediavelmente perdidas (o castelo, a igreja matriz…) e outras, apesar de parcialmente destruídas, só mais tarde viriam a ser consertadas, mas já nunca com o fôlego construtivo que pairou na praça de 1764 até ao cerco de 1810 (Foto3).
Este foi o início da morte da fortaleza que, ao fim de poucas horas de bombardeamentos se revelou ineficaz e, por isso, uma Comissão de 1824, apontando-lhe numerosos defeitos, alvitrou a sua desclassificação.
Em virtude das convulsões internas que marcariam o advento da Monarquia Constitucional, no ano de 1853 a atenção das chefias ainda se voltava de novo para Almeida e, desta vez, o veredicto da Comissão acerca da sua viabilidade resultaria na apreciação de ser esta “Praça uma das mais fortes do Reino, e talvez a mais forte dellas”, mas que, apesar disso, não foi o bastante para a sua continuidade, consumando-se a sua desclassificação no virar do século.
Depois de termos atravessado a história do sítio, lembramos que hoje ela percorre novos caminhos, fazendo recair um novo olhar e uma nova missão: a de Monumento.
Todo o ponto de chegada é, naturalmente, novo ponto de partida e o nosso voto é de que lhe possamos, pois, trazer dia-a-dia novo fôlego, novos motivos de atração – para bem-estar dos almeidenses e do seu património multissecular... ingredientes estes, quiçá os bastantes para que venha a efetivar-se enquanto «Património da Humanidade». Aliás, o dossiê já está pronto e aí se apontam as inúmeras virtualidades que Almeida tem para a sua candidatura ser formalmente considerada viável e efetiva.
Breve descrição da Estrela de Almeida
A configuração que nos apresenta a Praça-Forte de Almeida, é a de um traçado quase regular, hexagonal, materializado em 6 baluartes e 6 meias luas que se desenvolvem rodeadas por uma cintura de fossos com caminho coberto, impressionante na sua grande dimensão aferida pelos seus 64ha de superfície global, incluindo os glacis (Foto 4).
Derivado da sua geometria é o resultado do mais elevado esforço construtivo de uma praça-forte, cifrando-se que por cada metro quadrado de área urbana, tivesse que se construir um metro quadrado e meio de excecionais muralhas de pedra (Campos: 2009, 181).
A disposição dos seus pentágonos seria regulada pelo alcance de um tiro de mosquete, o que representaria em meados do seculo XVII 750 pés, ou seja, mais ou menos 200 metros. Enuncia-se já no tratado de De Ville que a razão de ser da forma da fortificação resulta de uma exigência teórica basilar: todas as partes deviam “ser flanqueadas, quer dizer que não haja lugar algum na praça que não seja vista pelos lados”.
Parece certo que os primeiros redutos a ser edificados foram os Baluartes da Cruz, e de S. João de Deus e depois o de Santa Bárbara, defendendo o lado mais descoberto do sítio, já fora da proteção do Castelo dito medieval.
Com excepção dos Baluartes de S. Francisco (ou da Cruz) e de S. João de Deus, os restantes quatro têm, total ou parcialmente, os paramentos das escarpas em terra, motivados pelas destruições ocorridas durantes os assédios de 1762 e de 1810. A solução decorreu da decisão de se consolidarem os taludes, diminuindo o perímetro da linha de fogo e estabilizando o conjunto sem paramentos de pedra, tal como chegou aos nossos dias. Do conjunto dos 6 revelins, destaque para o Doble, exemplar único na Península Ibérica, devido à sua geometria rigorosa e volumetria composta para funcionar com contraguarda de grandes dimensões e um reduto pentagonal, interligado por ponte levadiça com ligação à poterna encurvada. É a obra mais consistente do tipo Vauban.
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